A percepção comum sobre o consumo de substâncias nocivas muitas vezes coloca o álcool em uma categoria menos perigosa do que drogas ilícitas como heroína e crack. No entanto, estudos científicos recentes desafiam essa visão.

    Um estudo britânico publicado na revista Lancet classificou os danos causados por várias substâncias, concluindo que o álcool figura entre as mais prejudiciais, não apenas para os usuários, mas também para aqueles ao seu redor.

    A Organização Mundial da Saúde estima que o álcool seja responsável por 2,5 milhões de mortes anuais, tornando-se um dos principais fatores de risco para mortes prematuras e incapacitações globalmente.

    Estudo revela: álcool é pior que droga

    Um estudo recente revelou que o álcool causa mais danos do que muitas drogas consideradas ‘pesadas’. Essa conclusão foi resultado de uma pesquisa britânica liderada por David Nutt, presidente do Comitê Científico Independente para Drogas da Grã-Bretanha.

    Metodologia da pesquisa britânica

    A pesquisa utilizou uma abordagem inovadora para avaliar os danos causados por diferentes substâncias. Os pesquisadores desenvolveram uma escala que considera dois eixos principais: danos ao usuário e danos a terceiros.

    Os danos ao usuário incluem mortes diretas e indiretas, dependência e perda de relacionamentos. Já os danos a terceiros englobam criminalidade, danos ambientais, conflitos familiares e custos econômicos.

    Escala de danos e classificação das substâncias

    A escala de danos varia de 0 a 100. Nessa escala, o álcool foi classificado com 72 pontos, seguido pela heroína (55) e o crack (54).

    Outras substâncias avaliadas incluíram metanfetaminas (33), cocaína (27), tabaco (26), anfetaminas (23) e maconha (20).

    Essa classificação demonstra cientificamente que o álcool causa mais danos gerais do que drogas consideradas “pesadas”.

    Comparação entre álcool, heroína e crack

    A comparação entre o álcool e outras substâncias como heroína e crack revelou que, embora essas drogas sejam consideradas mais perigosas, o álcool causa mais danos gerais à sociedade e aos usuários.

    Isso se deve ao seu impacto no sistema nervoso central e aos danos a longo prazo associados ao seu consumo.

    Os efeitos devastadores do álcool no organismo

    O consumo excessivo de álcool pode ter consequências devastadoras para a saúde humana. De acordo com a médica e psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva, as consequências do uso continuado de álcool são devastadoras.

    Danos ao cérebro e sistema nervoso central

    O álcool danifica o cérebro ao atacar os tecidos adiposos que o revestem, desencadeando processos inflamatórios que alteram a bioquímica cerebral e as transmissões elétricas entre as sinapses. Isso pode levar a alterações significativas na função cerebral.

    A progressão dos efeitos do álcool no sistema nervoso central é particularmente preocupante, pois pode variar desde o relaxamento inicial e euforia até depressão e, em casos extremos, coma ou morte.

    Consequências para a saúde física

    O uso continuado de álcool está associado ao desenvolvimento de várias doenças, incluindo doenças autoimunes, cirrose hepática, diabetes e problemas cardiovasculares. Além disso, o álcool compromete o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a infecções.

    Impactos na saúde mental

    O álcool também tem um impacto significativo na saúde mental, com uma forte relação entre consumo alcoólico e transtornos como depressão e ansiedade.

    Além disso, o consumo crônico de álcool pode levar a alterações cognitivas permanentes, afetando a qualidade de vida do usuário.

    O consumo de álcool representa um fator de risco significativo para diversas condições médicas, com consequências que podem se manifestar ao longo de toda a vida. É crucial entender esses riscos para promover a saúde e prevenir doenças relacionadas ao álcool.

    O paradoxo social do álcool

    A sociedade enfrenta um paradoxo com relação ao álcool, uma droga que causa mais danos do que muitas substâncias ilícitas.

    Apesar de estudos científicos comprovarem que o álcool é uma das substâncias mais prejudiciais, ele permanece legalizado e culturalmente aceito em praticamente todas as sociedades.

    Legalidade e fácil acesso

    A legalidade e o fácil acesso às bebidas alcoólicas são fatores cruciais que contribuem para a normalização do seu consumo.

    Em muitos países, incluindo o Brasil, o álcool é facilmente encontrado em supermercados, bares e restaurantes, tornando-o uma substância altamente acessível.

    Essa acessibilidade facilita o início precoce do consumo, especialmente entre os adolescentes.

    Consumo precoce entre adolescentes

    De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes brasileiros já consumiram álcool alguma vez na vida, e 33% dos alunos do Ensino Médio bebem em excesso pelo menos uma vez por mês.

    O consumo de álcool na adolescência pode causar danos irreversíveis à cognição e à aprendizagem, afetando negativamente o desenvolvimento dos jovens.

    O papel da publicidade

    A publicidade desempenha um papel crucial na promoção do consumo de álcool. Anúncios de bebidas alcoólicas representam entre 8% e 10% de toda a publicidade veiculada na TV, especialmente em programas direcionados aos jovens.

    Essa exposição à publicidade contribui para a normalização do consumo de álcool entre os jovens.

    Comparação com outras drogas ilícitas

    É notável a diferença no tratamento social dado ao álcool em comparação com outras drogas ilícitas, como maconha e cocaína.

    Enquanto os usuários de outras drogas são frequentemente estigmatizados, o álcool é amplamente aceito e consumido socialmente, apesar de seus danos significativos.

    Estratégias necessárias para saúde pública

    Diante dos resultados alarmantes sobre os efeitos do álcool, é crucial adotar estratégias eficazes de saúde pública.

    O estudo britânico publicado na revista Lancet destaca a necessidade de tratar agressivamente os danos causados pelo álcool, uma substância que afeta significativamente a saúde pública.

    É fundamental revisar as políticas públicas sobre substâncias psicoativas, considerando que as classificações atuais têm pouca relação com os danos reais causados. As drogas legais, como álcool e tabaco, causam pelo menos tanto dano quanto as substâncias ilegais.

    Além disso, campanhas educativas são essenciais para informar a população sobre os efeitos reais do álcool no sistema nervoso central e compará-los com os de outras drogas.

    Estratégias de prevenção focadas em adolescentes também são cruciais, dado o risco de dependência e perda de capacidades cognitivas.

    A regulamentação mais rigorosa da publicidade de bebidas alcoólicas, especialmente para o público jovem, é outra medida necessária.

    Abordagens de redução de danos podem minimizar as consequências negativas do consumo de álcool para usuários e a sociedade.

    O fortalecimento de políticas voltadas para o tratamento de álcool e drogas também deve ser prioridade, oferecendo suporte adequado a quem já enfrenta a dependência.

    É necessário equilibrar liberdades individuais com a proteção da saúde pública, considerando que o álcool causa 2,5 milhões de mortes por ano e está associado a diversos problemas sociais.

    Imagem: canva.com

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    Formado em Engenharia de Alimentos pela UEFS, Nilson Tales trabalhou durante 25 anos na indústria de alimentos, mais especificamente em laticínios. Depois de 30 anos, decidiu dedicar-se ao seu livro, que está para ser lançado, sobre as Táticas Indústrias de grandes empresas. Encara como hobby a escrita dos artigos no Revista Rumo e vê como uma oportunidade de se aproximar da nova geração.